
Numa frenética competição, como se estivesse em jogo à última fatia de queijo existente na terra, os ratos começam emergir dos esgotos. Atraídos pelo aroma de queijo que se alastra pelas tubulações, eles abandonam suas tocas e põem-se a caminho do epicentro do irresistível cheiro.
Os ratos que outrora sobreviviam sorrateiramente na lúgubre tubulação e se contentavam em viver das migalhas que “vez ou outra” eram levadas pela água junto com os dejetos e detritos que escorriam pelo pavoroso canal rumo a decomposição, agora, abandonam seus ninhos e seguem ao desconhecido.
Seduzidos pelo atrativo aroma oriundo do exterior de sua moradia, eles se lançam tresloucadamente em direção ao objeto de seu desejo: o queijo. Todos ávidos por abocanhá-lo, se lançam contra o ralo que os impediam de sair e que, ao mesmo tempo, lhes protegiam do voraz “bichano” que habita na casa grande, onde monta guarda com o intuito de aniquilar roedores que se aproximarem do precioso queijo.
Mas, mesmo sabendo dos perigos que os guardam fora de seus esconderijos eles partem enfurecidos, contra o ralo que os separam da felicidade. E nesse burburinho ensurdecedor os mais robustos possuem mais chance de chegarem ao seu destino e, paradoxalmente, os mais raquíticos são pisoteados e mortos por aqueles que outrora compunham o mesmo ninho, mas que agora, tomados pela obtusa cobiça de degustar o queijo, atropelam todos que encontram pela frente.
Apesar dos inúmeros obstáculos encontrados, eles caminham sem hesitar em direção àquilo que tanto os atraem.
Os poucos que conseguem vencer os obstáculos, ao se depararem com a luz do sol, ficam ofuscados e mesmo desnorteados com a intensa claridade, dispersam-se pela imensa casa tentando escapar do robusto guardião do queijo. Do outro lado, o tenaz guardião desfere seu ataque mortal e abate alguns, porém, por ser apenas um, o guardião consegue defender um lado, enquanto o outro fica desprotegido e, por isso, alguns ratos conseguem alcançar o objeto de sua cobiça.
Os que alcançaram aquilo que os atraíram de longe ficam perplexos ao descobrir que o aroma que os fizeram subir das profundezas do esgoto exala de um queijo que já está todo perfurado, fruto dos ataques de algumas ratazanas que, assim como eles, foram atraídas pela adocicada fragrância. Também descobrem que além do felino protetor, precisam enfrentar as ratazanas que, de forma mirabolante, conseguem sobreviver ali, esquivando-se por entre o mobiliário da casa e sempre que possível, abocanhando o aprazível queijo.
Na ânsia de se saciarem, alguns comem até não suportarem o peso do próprio corpo tornando-se presas fáceis para a sentinela que luta para manter o queijo intacto.
Os que sobrevivem a tudo isso, após se fartarem dividem-se em grupos. Os principiantes regressam ao seu inóspito recanto com o intuito de descansarem de barriga cheia e se prepararem para a próxima temporada. O segundo grupo, por sinal o maior, já não consegue esquecer o saboroso queijo e por isso decidem não mais voltar ao miserável esgoto, preferindo ficar e enfrentar as experientes ratazanas da casa para, também, desfrutarem do queijo, aguardando o retorno dos outros, para juntos desferirem novo ataque.
Deste modo, ficam e vivem dia após dia, anos após anos, até que um dia sejam surpreendidos pelo incansável guardião ou caiam em alguma armadilha espalhada pela imensa casa ou morram naturalmente.
E assim...
Os ratos de esgoto quando provam do queijo jamais esquecem. Por isso, ficam o resto da vida rondando a casa, almejando obter outra chance de abocanhar o queijo perfurado.
Muito bem!
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